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Vencer na vida realmente só depende de você?

Conversando com alguns amigos surgiu discussão acerca de crescimento profissional e da meritocracia. O ponto de partida para o debate fora uma postagem amplamente circulada nas redes sociais, na qual figurava uma criança de aproximadamente 7 anos de idade, suja, segurando uma sacola e catando lixo em um gigantesco terreno cheio de objetos e de restos de comida, tudo isto acompanhado pelos olhares atentos dos urubus. A postagem vinha acompanhada da seguinte frase: “para eu vencer na vida só dependo de mim”. Fazia alusão a desumana dificuldade e as barreiras que teria, alguém tão jovem e não dotado de consciência para decidir o seu próprio destino, de enfrentar para estudar e aprender. Mas será que para vencermos na vida apenas dependemos de nós mesmo?
Logicamente, na Noruega ou na Suíça, países com maior IDH do planeta, a resposta seria positiva, porquanto o Estado é o verdadeiro garantidor do desenvolvimento das pessoas, sendo o responsável por criar as condições para uma boa educação e formação.
Mas quando transportamos a discussão para a realidade brasileira, as justificativas mudam da água para o vinho. É impossível que um modelo meritocrático funcione sem uma mínima igualdade de oportunidades. Aí está o “X” da questão, a busílis: sem que as pessoas tenham isonomia de chances reais não há o que se falar em mérito. Seria como imaginar uma corrida de 10 quilômetros, na qual os participantes largassem em distâncias diferentes e em tempos distintos.
Mas não é só.
As condições de formação intelectual de um jovem rico são amplamente mais favoráveis do que a de um jovem pobre. E a sociedade considera natural a existência de uma educação para o abastardo financeiramente e de outra para os menos favorecidos, aceitando o fato de que uma criança pobre certamente aprenderá menos, em comparação com uma criança rica.
Tudo isto, este conformismo coletivo, gera um gigantesco déficit social e educacional, cuja resultado é uma imensa quantidade de miseráveis, que assim estão por nunca terem gozado de uma só oportunidade, salvo raríssimas exceções.
Num de meus casos criminais, me recordo da mãe de um réu que chorava aos prantos, pois acabara de saber da morte de seu filho. Dizia ela: “eu sei que ele andava com más companhias. É culpa minha, é culpa minha! O pai havia falecido há 10 anos, envolvido com o tráfico, e eu fiquei sozinha para dar de comer a três filhos. Saia às 05:00h e voltava às 20:00h para trabalhar em minha banquinha de frutas e faltou tempo para que eu pudesse orientar meu filho a estudar”. Mais a frente arrematou: “moro nesta cidade há 30 anos, e nunca tive ajuda da Prefeitura para que meu filho pudesse estudar. Aqui todos somos abandonados. Quem nasce pobre, morre miserável”. As declarações foram dadas num momento de dor extrema, contudo revelam o grau de abandono das crianças e adolescentes, sobretudo nas pequenas cidades ou na periferia, cujos pais, para trazer o pão de cada dia, sequer têm tempo de cuidar de seus entes queridos.
Quem não tem o que comer, vive na miséria, tem muitos filhos, não pensa em estudar. A única lei que vigora é a da própria sobrevivência. E quando conseguem trabalho, não passam, muitas vezes, de simples “bico”, sendo submetidos a exaustiva e desumana jornada de domingo a domingo, nos mais variados ramos.
A meritocracia, enfim, é realidade apenas para os que se encontram em igualdade de chances, de oportunidades. Para quem não tem nada, só existe uma regra: a da sobrevivência. Infelizmente.
Leonardo de Moraes – Presidente ABRACRIM-AL

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