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​O tempo e o Coliseu

O tempo passa, mas o Sistema Prisional brasileiro segue o círculo vicioso de uma interminável históriaexposta como uma tragicomédia,nomelhor estilo da antiga Roma: a pragmáticapolítica do pão e do circo; plateia embevecida que aplaude o frenético espetáculo;na arena, gladiadores expostos à morte sob o sol inclemente; e, César, com o dedo em riste e o sorriso mordaz, pronto a atender aos gritos dos “cidadãos do bem”. Polegar para baixo, dita: ”Bandido bom é bandido morto!.

A política de Segurança Publica continua absoluta: absoluta ausência de política. O que se vê são promessas vãs e arremedos de planos de governo que não se estabilizam. Os gestores brasileiros, em todos os níveis,insistem em confundir programas de governo com programas de Estado; continuam a chamar o governo de “meu”. Perdem-se em descontinuidade e descontrole em setores vitais para a sociedade.

O “patinho feio” da segurança pública, a Execução Penal, área desgastante que não traz rendimentos políticos eleitorais” sobrevive de migalhas; servidores “heróis” jogados às feras. A recorrente crise dasuperpopulação (déficit de 50%) e da insuficiência derecursos materiais e humanos e de logística se perpetua no tempo. Os programas minimamente bem-sucedidos dos governos anteriores foram todos sucateados e/ou abandonados.

Chegou-se em Goiás aoíndice de mais de 55% dos presos trabalhando ou estudando. Hoje, apenas 4% dos presos estudam, e 2, 3% trabalham. Além disso, 43,3% são presos provisórios, aguardando julgamento e pagam pela ineficiência do Estado AdministraçãoJuiz, ou seja: do Estado Infrator.

Agrava-se junto ao caótico quadro de desmazelo o fato de o sistema prisional ser tratado de mododesconectado à visão restauradora-terapêutica da Justiça Penal. A política atual é caolha, baseia-se no encarceramento,no justiçamento e na desforra. Deslembraque a Lei de Execução Penal prevê como função primordial da prisão a ressocialização.

A tragédia se agiganta diante do incremento e da sofisticação do crime organizado dentro dos presídios, firmado em três tentáculos principais: tráfico de drogas, tráfico de armas e lavagem de dinheiro, com o poder avassalador de manietar toda a população carcerária e cooptar agentes públicos.

Entrementes, ante a convulsão e a esquizofrenia,Roma proporcionava artes teatrais e canções para descontrair o espírito beligerante de César. Assim,trago para concluir o lirismo de Fernando Pessoa, ousando fazerlhe um trocadilho: “A pena só vale a pena, quando a pena não se apequena”.Contudo, o Coliseu se perpetua no tempo que segue como senhor da razão.

EDEMUNDO DIAS DE OLIVEIRA FILHO

Pastor Evangélico e Advogado. Presidente da Comissão de

Segurança Pública e Política Criminal da OAB/GO

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