A mulher negra e a resistência pelo espaço de poder
Lisyane Jalmira Ferreira
RESUMO
A Constituição Federal de 1988, introduz os conceitos de igualdade e equidade. No entanto, a população negra ainda vive em pé de desigualdade e sem qualquer isonomia. E para a mulher negra em comparação com uma mulher branca há muita desigualdade, principalmente quando está relacionado ao mercado de trabalho. O estereótipo da cor da pele é um dos pontos relevantes para a sociedade racista. Por essa razão abordam-se, sobre fatos sobre as dificuldades presenciadas e resistência para continuar a luta, para alcançar os objetivos.
Palavras-chave: Mulher negra; trabalho; espaço de poder.
ABSTRACT
The 1988 Federal Constitution introduces the concepts of equality and equity. However, the black population still lives on a footing of inequality and without any isonomy. And for black women compared to white women, there is a lot of inequality, especially when it comes to the job market. The stereotype of skin color is one of the relevant points for the racist society. For this reason, facts about the difficulties witnessed and the resistance to continue the struggle, to achieve the objectives, are discussed.
Keywords: Black woman; I work; power space.
A MULHER NEGRA E A FALTA DE ACESSIBILIDADE
Precisamos analisar a atuação da mulher negra na advocacia e os obstáculos que são impostos por uma sociedade que ainda é muito preconceituosa.
A acessibilidade dada a uma mulher, ainda mais se for negra, aos espaços de poder ainda é bem pequena. Apesar de haver um discurso de igualdade e que a ascensão profissional esteja pautada na competência, a realidade se mostra bem diferente do que ainda insiste em ser pregado.
Eu, enquanto mulher negra, que cresci dentro de comunidades, que passei junto com minha família por várias dificuldades e preconceitos por padrões impostos por uma sociedade que é muito racista e preconceituosa, sobrevivi, sobrevivo, luto dia a dia para que não consigam me colocar no lugar que acham que devo estar, lugar de subserviência.
Sou ainda uma jovem advogada, buscando o meu espaço no mundo da advocacia, mas estou a tempo o suficiente para visualizar os olhares de questionamentos e dúvidas de como eu fui parar ali, como, enquanto mulher negra, me fazia ser percebida, não só por estar em locais frequentados por 90% de brancos, mas por ter conquistado alguns espaços.
Infelizmente a sociedade ainda não assume que somos, sim, racistas. A negação é essencial para que o racismo continue. E por isso precisamos e temos a obrigação moral de agirmos contra ele, dentro e fora do judiciário.
Nos dias atuais, o racismo se manifesta de forma menos gritante, mas não menos devastador na vida daquele que sofre.
Para que não haja estranheza, o negro pode estar sem problema algum, em qualquer lugar de servir, mas há uma enorme dificuldade em aceitar e trazer oportunidades para que estejamos em grandes escritórios, e muito raramente em cargos de chefia. E as poucas vezes que isso acontece, raramente é o negro com a pele mais escura, pois acabam priorizando os negros de pele clara, aquela cor que mais se assemelha ao branco.
No mês de novembro, desse mesmo ano, fui convidada para palestrar aos alunos de algumas escolas da rede pública de ensino, para falar sobre o Racismo. E nada melhor do que iniciar as conversas falando sobre a minha própria história de vida, que foi cheia de preconceitos e frustrações.
Nas falas e conversas dentro das salas de aula, tentei demonstrar todas as minhas frustrações enquanto menina negra, menina que na maioria das vezes era motivo de falas preconceituosas e brincadeiras indesejadas, mas que muitas vezes participava das risadas e fingia achar engraçado, para que a agressão fosse logo encerrada. Mas isso não diminuía a minha dor, bem pelo contrário, só aumentava.
Sabe aquele ditado: Só o dono da dor sabe o quanto dói! Só eu sabia o quanto aquelas falas me machucavam, e foram exatamente aquelas dores que me fizeram ter a determinação de não parar.
Mas nem todos são ou foram como eu, muitos param, sofrem, adoecem. Muitos não conseguem ter forças para batalhar contra todos esses atos.
Segundo Conceição e Conceição (2010) a escola deveria ser um facilitador do encontro de referenciais identitários positivos para a criança negra. Ou seja, os educadores deveriam também estar atentos para quais modelos de beleza e principalmente de vida estão sendo oferecido aos alunos.
Não foi do dia para a noite, foram anos de dores, dores essas que transformaram a menina oprimida em uma Professora, em uma professora pós-graduada em psicopedagogia, formada em Direito, pós-graduada em Prática Penal, e Advogada Criminalista. Sim, a menina se tornou Doutora!!!
A advogada que veio da comunidade, que tem o corpo tatuado e que muitas vezes ao chegar nas penitenciárias ou em delegacias, é confundida com familiar do preso, somente por ser negra.
Ser negro significa ter menos conhecimento, ser mais rejeitado pelo mercado de trabalho, ter menos oportunidades de ascensão profissional, ter menos acesso aos serviços de saúde, ser vítima preferencial da violência policial, ter mais chances de ir para a prisão, morrer mais cedo.
E essa realidade é vista e interpretada como algo natural e inevitável das desigualdades sociais, mas não, isso é Racismo.
E quando se trata das mulheres negras, advogadas, a situação ainda é pior. As negras, muitas vezes são vistas como objetos, por causa do machismo e racismo. Se aos homens negros já é dado poucas oportunidades, às negras é dado menos ainda.
Não só o sistema judiciário, mas todo o Sistema de Justiça possui impasse na aceitação de estarmos lá, lado a lado, ocupando espaços. E por conta de toda essa dificuldade, de não termos espaços nos grandes escritórios, temos uma única opção, criarmos o nosso próprio espaço.
As poucas mulheres negras que com muito mais esforço conseguiram chegar no judiciário, são exemplo e servem de inspiração para outras que também almejam seguir passos semelhantes, porém ainda somos minoria.
Para uma mulher ocupar um espaço de poder os desafios já são enormes, mas quando falamos de uma mulher negra os desafios são ainda maiores. E quando falamos no sistema judiciário então, os desafios são gigantescos.
Apesar de haver um discurso de igualdade e que a ascensão profissional esteja pautada na competência, a realidade se mostra bem diferente do que ainda insiste em ser pregado.
Precisamos estar sempre mostrando a sociedade que podemos sim ocupar todos os espaços.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não somos sexo frágil, resistir nunca foi uma escolha, mas sim uma necessidade. Precisamos estudar cada vez mais, nos capacitar, para que estejamos fortalecidas a continuar lutando e sendo resistência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MALAFAIA, Evelyn Dias Sequeira. A importância da representatividade negra na construção de identificação em crianças negras a partir de literatura infanto-juvenil negra. Xcopene, outubro. 2018.