Diferenças no trato profissional entre homens e mulheres, e a herança cultural machista
O mercado de trabalho ainda não abriu totalmente suas portas para nós mulheres, e isso se reflete também na advocacia, especialmente na área criminal. Vale lembrar que no mercado de trabalho de uma forma geral, mulheres ganham em média 40% a menos do que os homens para exercer exatamente a mesma função, segundo dados do IBGE.
Ainda, em dados gerais, os rendimentos de mulheres são em média 77,5% menores que os dos homens. Essa porcentagem varia dependendo da área de atuação profissional. É uma disparidade muito grande. Por que em pleno ano de 2023 ainda temos essa diferença gritante?
Essa diferença absurda se deve a herança cultural machista enraizada em nossa sociedade. Em termos históricos, as mulheres entraram tardiamente no mercado de trabalho, tendo em vista que condições igualitárias passaram a ser buscadas a partir das décadas de 60 e 70.
Na área da advocacia não é diferente. Temos que fazer o dobro simplesmente por sermos mulheres. Na esfera da advocacia criminal, ainda considerada uma área “masculina”, tal fato fica mais evidenciado. Temos que justificar o tempo todo que somos capazes, que temos habilidades, que somos capazes de atuar como qualquer profissional do sexo masculino. Essa advogada que vos escreve já chegou a ouvir de um cliente “dra. ,se precisar de um advogado homem para te ajudar, eu pago”, um verdadeiro absurdo: nossa capacidade profissional é questionada pelo fato de sermos mulheres.
Além disso, temos que ter uma postura muito mais firme no ingresso em delegacias e penitenciárias, pois muitas vezes, somos tratadas como se fossemos incapazes de estar ali trabalhando, acompanhando um cliente. Já ouvi que “área criminal é pra homem.” Um verdadeiro preconceito, pois não existe “área de homem, área de mulher.”
O machismo continua muito intrínseco nas relações sociais: a ideia de que a casa e os filhos são responsabilidade exclusiva da mulher. Não são, ou pelo menos, não deveriam ser. As atividades familiares e domésticas deveriam ser divididas igualmente entre homens e mulheres, e ambos deveriam ter exatamente a mesma responsabilidade sobre o cuidado dos filhos – no entanto, sabemos que isso ainda não ocorre e essa é uma realidade distante. A dupla jornada de trabalho acaba prejudicando muito a mulher.
Também é gritante o reduzido número de mulheres nas posições mais altas do Poder Judiciário, bem como, posturas no meio jurídico que escancaram o machismo do judiciário. Machismo e desigualdade entre os sexos devem ser debatidos e trabalhados nos fóruns de discussão na sociedade.
Discussão, organização e ação. Quem sabe assim, conseguiremos conquistar igualdade no mercado de forma mais rápida. Os pilares da sociedade devem aos poucos, serem modificados. Uma jornada longa, porém necessária no caminho para alcançarmos a igualdade.
Barbara Hartmann