Advogada presa no exercício da atividade profissional agradece à ABRACRIM pela atuação no caso
Acompanhe o relato da advogada, Carla Begnini Pinheiro, presa na manhã deste 12 de outubro, em Curitiba, em pleno exercício da atividade profissional. A carta foi encaminhada em agradecimento à ABRACRIM, que, prontamente, colocou-se à disposição da colega para atuar e resolver a questão:
“Hoje quando acordei pela manhã, como todos os dias, abri a janela do quarto para entregar a Deus o dia, agradecer pela noite e pedir bênçãos para a vida de cada um. Nesse momento vi então uma cena aterrorizante: uma mulher e seu filho adolescente do prédio em que eu estava hospedada serem espancados por um homem.
Apenas coloquei um robe sobre o pijama e desci, assim como vários outros moradores.
Ao chegarmos, constatamos que o ex-marido havia espancado a mulher e o enteado, e havia fugido com o filho do casal, de apenas um ano de idade.
Chamamos a PM e, mesmo diante da gravidade da situação, os policiais informaram que não poderiam pedir reforço a outras guarnições sobre o fato do pai estar fugindo com a criança e ser interceptado.
Estávamos todos muito nervosos. Tomei parte como ADVOGADA da vítima e estávamos começando a narrativa para o soldado da Polícia Militar que iria atender a ocorrência, quando a irmã da vítima chegou, assustada e com o bebê no colo, informando que o ex-marido havia ido à casa dela agredi-la e dizer que mataria o enteado da ex-esposa. Num momento de lucidez, a irmã da vítima conseguiu tirar a criança de um ano do carro e se esconder na casa dela.
Depois que o ex-marido saiu ameaçando a todos, ela entrou no carro e veio trazer o bebê para a mãe, que estava comigo no hall do prédio.
Quando esse novo fato apareceu, pedimos ao policial para constar essas ameaças de morte na ocorrência, para ser mais enfático o pedido de prisão e a medida protetiva da família.
Neste momento começou aquilo que, em 25 anos de advocacia, nunca tinha visto. O policial se alterou, disse que eu não iria lhe ensinar como trabalhar, me deu voz de prisão, mesmo eu me identificando como advogada, me algemou com as mãos na cabeça, ia me jogar no porta-malas da viatura (não o fez porque outro advogado vizinho interveio) e me levou PRESA para a delegacia.
Não me permitiu sequer uma ligação, qualquer contato com outras pessoas. Mesmo eu estando de pijamas, me levou para a delegacia. Só consegui pedir para os meninos entrarem em contato com alguém e dizer o que estava acontecendo.
Chegando na delegacia, fiquei em pé na entrada, algemada, de pijama, exposta à mais ridícula cena.
Depois de quase uma hora, o representante da Comissão de Prerrogativas da OAB do Paraná e a representante da Associação dos Advogados Criminalistas chegaram e solicitaram a retirada das algemas. Meu pulso já estava todo marcado.
Depois de aproximadamente duas horas, após todas as ocorrências terem sido ouvidas, fui ouvida e assinei um TC para comparecer a uma audiência em fevereiro de 2017.
Por horas fui alvo de chacotas dos policiais militares que lotavam a delegacia (eu de pijama e chinelos) e que como característica do corporativismo, me viam como bandida.
Estou indignada! Nem os apelos dos colegas sensibilizaram o delegado para me levar a uma sala reservada ou priorizar a minha ocorrência. Até então, eu não havia comido nada, nem tomado meus remédios controlados, como o de hipertensão.
Não podia me calar diante daquela situação humilhante como advogada. Nunca me calei, não seria ante uma injustiça e arbitrariedade daquela.
Esse episódio estragou meu último dia aqui em Curitiba. Havíamos combinado de passear no feriado, mas acabei passando pela situação mais humilhante dos 26 anos que tenho de formada.
Andar algemada nas ruas de Curitiba numa viatura policial me fez refletir muito.
Não vivemos num mundo de humanos. Vivemos num mundo de animais vaidosos, que são capazes de tudo para se prevalecer.
Mas não calarei minha voz. Nunca! Nunca briguei por algo tão justo na minha vida como briguei por aquela mulher que foi espancada juntamente com seu filho de 17 anos por um companheiro que não aceita a separação – e que ainda arrancou de seus braços o filho de um ano e sumiu a toda velocidade.
Tive caso na minha família de ex-marido que matou minha prima e depois se matou… porque algumas pessoas não vivem para assumir o que fazem.
Da mesma maneira que brigo pelos meus, brigarei contra as injustiças, nem que para isso tenha que ser levada algemada dentro de um camburão, diante de vários vizinhos, filhos, nora e de uma infinidade de viaturas e policiais que repentinamente apareceram na porta do prédio, como se estivessem prendendo um traficante do quilate de Pablo Escobar.
Nunca me calarei diante de injustiças. Um dia escolhi a advocacia como minha profissão porque me apaixonei por um ideal.
Quero agradecer com muito carinho ao Presidente da ABRACRIM NACIONAL, na pessoa do Dr ELIAS MATTAR ASSAD; ao Presidente da ABRACRIM PR, DR ALEXANDRE SALOMÃO, e ao meu colega, DR BRENO MENDES, presidente da ABRACRIM-RO, aos colegas advogados que estiveram ao meu lado, me acompanhando à delegacia, pelo atendimento dispensado a minha pessoa e aos meus familiares nesse momento tão fatídico da minha vida. Jamais baixarei minha cabeça quando vir uma justiça sendo praticada. Obrigado a Deus por eu fazer parte da classe da Ordem dos Advogados do Brasil.”