Pensamento negativo ajuda em tribunal do Júri
O caso para a acusação parecia fácil demais. Pouco depois da uma da madrugada de 26 de abril, a jovem de 20 anos entrou pela porta da frente do restaurante Steak n' Shake em Winter Parker, na Grande Orlando, Flórida. Seria um fato corriqueiro, se ela não tivesse feito isso de carro — uma SUV Honda CR-V. Foi uma manobra desastrosa, típica de quem está “sob a influência de álcool ou de drogas” (DUI – driving under the influence). Os últimos fregueses haviam saído um pouco antes do “acidente”. Apenas alguns empregados estavam no interior do prédio, mas ninguém se feriu. Ela foi presa no local e levada à Justiça.
A acusação tinha fotos do carro, além da porta destruída do restaurante. Tinha fotos obtidas pela Polícia no celular da jovem, tiradas em um bar pouco antes do acidente. Ela teria bebido algumas doses de sangria (bebida de origem espanhola feita de vinho, vermute, soda limonada e frutas picadas). E havia sete testemunhas dispostas a colaborar com a acusação. Casos semelhantes são normalmente comprovados em tribunais com apenas uma ou duas testemunhas. Um caso criminal praticamente impossível de perder, para a acusação.
Mas venceu a defesa. Depois de dois dias de julgamento, os jurados não precisaram de mais do que 30 minutos para voltar à sala do tribunal e dar seu veredicto: “Não culpado” — o veredicto do Júri, nos Estados Unidos, é “culpado” ou “não culpado” (“guilty” ou “not guilty”), em vez de “culpado” ou “inocente”. Prevaleceu a tese da defesa de que tudo não passou de um acidente. Ficou para mais tarde o relato de ocorrência de sinistro ao seguro, para os reparos do restaurante e do carro.
O que fez a acusação perder um caso aparentemente tão fácil? “Otimismo”, diz o advogado e professor de Direito Elliot Wilcox, que também é editor do site TrialTheater. Ele assistiu ao julgamento de uma cadeira na primeira fila, como convidado, depois de ajudar a defesa a preparar “módulos de interrogatório cruzado” das testemunhas.
“A acusação foi para o julgamento mais munida com pensamento positivo do que com preparação. E isso é um erro que não se faz em um tribunal do Júri”, ele diz. Para o professor, a postura mental correta para advogados e promotores que atuam no tribunal do Júri é o pensamento negativo. “Pense negativamente. Não importa quão forte lhe pareça o caso, não fuja dessa pergunta: como posso possivelmente perder esse caso?”, ele sugere.
Para ele, não é a melhor técnica do profissional que vai atuar em um tribunal de Júri se perguntar “como posso ganhar esse caso?”. A melhor técnica é encarar os lados negativos, fazendo, antes de o julgamento começar, a autocrítica que faria depois do julgamento, se perdesse o caso:
“Se há possibilidade de eu perder esse caso, como e por que isso aconteceria?”; “O que pode possivelmente sair errado e me levar a perder esse caso?”; “Se perder, será porque os jurados não se deram conta de uma peça decisiva dos testemunhos? Que peça poderia ser essa?”; “Será porque não teria conseguido apresentar uma peça crítica da prova? Por que isso aconteceria?”; “Será porque os jurados não acharam meus argumentos tão persuasivos como eu pensei que fossem?”; “Devo testar previamente meus argumentos com um 'Júri' simulado do escritório ou de amigos e familiares?”
Se houver dificuldades para convencer colegas de trabalho, amigos e familiares, é melhor rever a estratégia.
Se o advogado ou promotor conseguir identificar os pontos fracos de seu caso antes do julgamento, pode se preparar a tempo para reverter antecipadamente um processo que pode falhar, mesmo quando todos os ventos sopram a favor. Pode corrigir problemas antecipados e reforçar pontos fracos. Isso exige algum exercício de pensamento criativamente negativo. É melhor isso do que um veredicto negativo, argumenta Wilcox.
FONTE: WWW.CONJUR.COM.BR