Advogado negro é detido por guarda municipal em Curitiba
O advogado Renato Freitas Junior, de 32 anos, foi detido e colocado nu na carceragem, por membros da Guarda Municipal, na tarde da última quinta-feira, 25 de agosto, em Curitiba. O jovem, que é candidato a vereador, afirmou que foi hostilizado ao ser acusado de perturbação da ordem e desacato à autoridade. Ele estava com amigos no Largo da Ordem, no centro da cidade, ouvindo rap em seu carro.
O advogado conta que teria pedido para acompanhar a revista a seu carro. “Eu só disse que se revistassem meu carro eu queria estar presente para reconhecer algo que eventualmente fosse encontrado, se fosse encontrado”, afirmou, sabendo que tinha esse direito por ser advogado. Ele afirma ter sido vítima de preconceito, pois, quando apresentou a carteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), os guardas teriam dito que o documento era falso. “’Olha pra esse neguinho, olha pra essa foto. Com certeza é falsa”, teriam dito. Renato Junior foi algemado com as mãos para trás e levado para a delegacia. Ele conta que foi humilhado na delegacia, quando um dos guardas o teria deitado no chão e pisado em sua cabeça. “Ele falou ‘se eu pisasse na merda eu teria mais problemas do que se pisasse em você’, e fez várias ofensas raciais”, disse. “Me deixaram nu na frente de todo mundo, na frente de policiais civis, inclusive de uma mulher policial, e me colocaram numa cela”, acrescentou.
Vários advogados foram até a delegacia para fazer a defesa de Renato Freitas Junior, inclusive o presidente da APACRIMI (Associação Paranaense dos Advogados Criminalistas) e ABRACRIM-PR, advogado Alexandre Salomão. A ABRACRIM – Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas – acompanhou o caso afirma que se trata de injúria racial, agressão física e abuso de autoridade. O presidente nacional da entidade, advogado Elias Mattar Assad, postou o caso em suas páginas de redes sociais, apelando para o prefeito Gustavo Fruet e a primeira dama Márcia Olescovicz Fruet para que atuassem de forma enérgica na apuração dos fatos. Representantes da entidade em todo o país também se mobilizaram. O presidente da ABRACRIM-RJ, advogado James Walker, afirmou que o caso fere toda a advocacia criminal. “A advocacia criminal está demonstrando que é um corpo forte em defesa de toda a sociedade. Por isso nos mobilizamos rapidamente”, disse.
A Prefeitura de Curitiba havia afirmado que os membros Guarda Municipal teriam recebido denúncia de que Freitas Junior e outras pessoas estariam ouvindo música muito alta e, ao abordá-lo, terias sido desacatados pelo advogado. No entanto, na manhã desta sexta-feira, 26 de agosto, a primeira dama anunciou que os guardas foram afastados de forma cautelar para que tudo seja apurado. Freitas Júnior responderá a um processo por desacato e perturbação da ordem.
Amigos de Freitas Junior programaram para o final da tarde desta sexta-feira um ato público em solidariedade ao advogado. O “Rap pela Liberdade” será a partir das 19h de hoje, no Largo da Ordem, em frente ao chafariz com a escultura de um cavalo.
Crédito da foto: Mídia Ninja.