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Além das Trincheiras

Nathália Poeta dos Santos

Certa vez me deparei com um diálogo extremamente intrigante, o qual me fez refletir de maneira profunda acerca de certas etapas de minha vida profissional. “Quem estará nas trincheiras ao teu lado? – E isso importa? – Mais do que a própria guerra.”

Ernest Hemingway, naquele momento, ao menos para mim, expressou em poucas palavras o quão importante é a escolha das nossas alianças para enfrentar as batalhas da vida, uma vez que é ao lado dessas pessoas que você se locomove e se protege no campo de batalha.

Me recordo quão difíceis foram os meus primeiros anos de advocacia criminal, enfrentando situações muitas vezes hostis. Não foram poucas as vezes em que fui definida pelo meu sexo e não propriamente pelo o que eu desejava construir e defender. Mas percebi que precisava me manter firme, pois estava certa de que situações assim não me afastariam das minhas atividades, tampouco atrapalhariam minha saúde mental. Eu com certeza não era a única. Nunca estive sozinha!

Ao longo dessas oito translações de advocacia criminal, observei e vivenciei o empoderamento da mulher na sociedade, com reflexos por consequência também na mulher advogada. Somos inúmeras, cada vez mais atuantes e exigimos respeito. Educação é diferente de intimidade. Cordialidade não tem nada a ver com liberdade.

O atual cenário não foi construído do dia para a noite, mas sim, ao longo de muita luta e muita imposição feminina.
Em 2021 tivemos a eleição e nomeação da primeira mulher como presidente da seccional da OAB de Santa Catarina. Não longe disso, são inúmeras as advogadas que estão desempenhando a função de presidente ou vice presidente de comissões da seccional, bem como participando ativamente do conselho. As Cortes Superiores possuem como presidente, mulheres.

Entre 2021 e 2022, das 7 comarcas diferentes em que atuei em sessão de tribunal do júri, compartilhei o plenário com 4 juízas e 3 promotoras. A Capital hoje conta com uma defensora pública na área de execução penal, a qual desenvolve um trabalho de excelência. Não diferente é o trabalho desenvolvido pela defensora pública do tribunal do júri, também da capital, a qual já ultrapassou centenas de plenários. Trabalho diretamente com 12 pessoas, sendo que delas, metade são mulheres.

Antes do recesso forense, neste ano, enfrentarei ao lado do meu marido, na comarca de Palhoça, um dos júris mais difíceis de nossas carreiras, o qual foi autuado por uma das respeitadas delegadas da Grande Florianópolis, ao meu sentir. Por incrível que pareça, quem estará sentada no banco dos réus, também é uma mulher. Ao que tudo indica, na bancada estará uma promotora e uma juíza.
E eu poderia ir além…

Estamos empoderadas como nunca! Exercemos cargos de importante destaque em nosso cenário social. Somos multitarefas, multifunções. Somos comunicativas, sensíveis, perseverantes, resolutivas, práticas, intuitivas. Contudo, ainda possuímos muitas batalhas para vencer, especialmente no campo de oportunidades igualitárias.

Todas na mesma trincheira, sempre lembrando que mais importante que a própria guerra, é quem está com você em busca do mesmo objetivo. Empodere-se, empodere outra mulher. Não se trata de uma busca pessoal, mas algo acima disso.

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