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Existimos, resistimos e escrevemos!

Priscilla Franco Amorim[1]

Caros leitores, essa é uma mensagem diferente. A uma porque estamos encerrando mais um ciclo, a duas porque entramos oficialmente na temporada das felicitações. Pois bem, como vocês mesmos acompanharam, esse projeto da ABRACRIM Mulher de Santa Catarina proporcionou passagens marcantes e brilhantes por aqui ao longo do ano. Desde então temos discutido, mês a mês, temas importantíssimos que, por coincidência, estão relacionados com a reafirmação da existência e relevância de corpos femininos em espaços de dominância masculina.

Através dessas publicações, além de angariar uma gama de conhecimento crítico acerca dos assuntos escolhidos por cada uma, também pudemos nos aproximar de suas histórias e compreender, ainda que minimamente, os percalços enfrentados por elas na construção de suas carreiras, muitos deles experimentados por todas. Aliás, essa infeliz característica nos relembra o quanto ainda reverberamos atrasos sociais e estigmas ultrapassados, provenientes do nosso precedente evolutivo de raiz escravocrata, classista e misógino.

Para nós, mulheres, os empecilhos são apresentados desde a tenra infância. Isso não muda no decorrer do crescimento e, portanto, não seria diferente quando, enfim, nos tornamos as profissionais que almejamos. Se as dificuldades já são inerentes ao eixo gênero, elas são ainda mais clarividentes quando se trata da advocacia criminal que, por si só, é uma área peculiar, sensível, cujo público é majoritariamente masculino, seja no trato com o cliente, seja nos ambientes de trânsito costumeiro tais como delegacias, presídios, penitenciárias, judiciário e demais instituições congêneres.

Aqui partindo da perspectiva que me cabe, qual seja, da jovem advocacia, reafirmo com todas as palavras, vírgulas e pontos tudo aquilo que já foi dito por minhas colegas, sobretudo no que concerne aos desafios que me encontraram pelo caminho. Aliás, por ainda ser considerada uma jovem advogada, não raras vezes colocaram em xeque a minha capacidade intelectual quando diante de situações complexas, sem contar o desrespeito de outros atores envolvidos na relação pré e pós processual, além dos inadequados comentários ligados à aparência – aqueles que chegam mascarados de simples elogios – que certamente não seriam proferidos acaso figurasse um sujeito do sexo oposto como integrante da interlocução.

Mas este mês, no qual comemoramos às advogadas (e advogados) criminalistas, a mensagem que vos deixo é de esperança, fé, determinação e força para continuarmos desbravando e conquistando o que nos cabe. Resta cada vez mais escancarado que não iremos mais permitir que o retrocesso se faça presente, movimento esse que fica ainda mais robusto com a resposta de união que já temos dado. É com muito orgulho que reconheço o quanto fui abraçada por advogadas mulheres mais experientes, que ao invés de segregar ou minimizar, escolheram acolher, compartilhar e oportunizar.

Não há nada mais poderoso que o genuíno networking feminino, capaz de proporcionar o desenvolvimento de novas habilidades, partilhas engrandecedoras de saber e uma verdadeira abertura de portas para as que estão ao lado, porque sabemos o quanto lutamos justamente pela valorização da nossa sapiência. O que lá atrás era apenas um embrião, hoje podemos perceber que se está tomando corpo e forma, muito embora ainda se tenha bastante a fazer – e sei que estamos dispostas a trabalhar nisso.

Fato é que tentamos replicar aqui exatamente isso. A abertura de espaço para falar e ser ouvida. Acreditamos fielmente que por intermédio da maximização da participação de mulheres, nesse caso, advogadas e criminalistas, estaremos contribuindo para mais um degrau de nossa comum escalada. Que nós possamos ampliar a nossa rede, nos conectar umas com as outras e, sobretudo, criarmos mais possibilidades para nós mesmas. Me despeço reforçando que somos capazes, sábias e vencedoras, ratificando nosso compromisso para o ano vindouro.

Boas festas e um próspero 2024!


[1] Advogada Criminalista. Pós-graduanda em Tribunal do Júri, Direito Penal e Criminologia (CEI – INTROCRIM). Bacharel em Direito pela Faculdade CESUSC. Pesquisadora. Coordenadora Geral dos Grupos de Estudos da OAB/SC Seccional. Coordenadora Adjunta no IBCCRIM/SC. Secretária na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) e ABRACRIM Mulher de Santa Catarina. Conselheira no Conselho da Comunidade da Execução Penal de Florianópolis. Membro da Associação de Advogados Criminalistas de Santa Catarina (AACRIMESC) e Associação Brasileira de Advogados Criminalistas (ABRACRIM). Membro das Comissões de Assuntos Prisionais; Tribunal do Júri; Direito Penal e Advocacia; Combate à Violência Doméstica; e Jovem Advocacia, todas da OAB/SC Seccional.

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