O BRASIL FAZ OPÇÃO PELA MORTE
O BRASIL FAZ OPÇÃO PELA MORTE
Por EDEMUNDO DIAS DE OLIVEIRA FILHO***
Acompanhamos a mais ressente e terrível chacina em uma favela no Rio de Janeiro, que deixou pelo menos 23 vítimas fatais, algumas com sinais de tortura e facadas, e a “morte, em confronto” com policiais rodoviários federais, de Genivaldo de Jesus Santos (38), em Sergipe. Esses e outros casos semelhantes, revelam que alcançamos, de modo oblíquo, a mais absoluta falência da segurança pública no Brasil.
Nos últimos anos em Goiás, a proporção de mortes por policiais sobre o total de homicídios com indicativo de uso desproporcional da força é maior que 25% do total de mortes violentas, enquanto que na média do país, esse percentual fica em 12,8%.
Mas por que razão ações como essas, que extrapolam a boa técnica e o poder/dever de atuação da polícia, a lei e os mais comezinhos princípios do Estado de Direito Democrático, tornaram-se tão recorrentes no País?
Ora, a violência estatal tal qual está – sistêmica, politizada e institucionalizada – nos autoriza a afirmar que se faz hoje opção pela morte e não pela vida. E, diante dos altíssimos índices de criminalidade, os governos em todos os níveis – municipal, estadual e federal – legislativo, executivo e judiciário, incluindo o Ministério Público – por ação ou omissão, renderam-se à força bruta como o único caminho.
Ao insistir na violência pela violência, as forças policiais reverberam nas ruas a voz dos governantes: povo contra a polícia e polícia contra o povo, especialmente contra as mulheres, os negros, as comunidades periféricas, faveladas e carentes, com toda a sanha ideológica da política do ódio, do preconceito e da vingança, tendo como opositores preferenciais aqueles os quais mais deveriam proteger. É a esquizofrenia social-estatal em que inimigo é sempre o outro!
É triste ver que a bancarrota da segurança pública se confunde com os governantes que celebram exultantes a morte, pois é justamente isto que os manterá no poder, mesmo sabendo que essa potestade macabra regressará mais cedo ou mais tarde de modo ainda mais funesto, com a sagrada “lei do retorno”.
Assim, já passa da hora de a própria polícia brasileira entender que não é a palmatória dos governos de plantão; que políticas de repressão não excluem políticas multissetoriais e interdisciplinares de prevenção e educação; que a polícia deve ser a primeira garantidora da justiça, da verdade e dos direitos dos cidadãos; que polícia significa polis e polis significa povo; e, por fim, que é perfeitamente possível ser respeitosa e respeitada, tão austera e correta para ser reverenciada, temida e amada a um só tempo, na luta não pela morte, mas pela vida.
***Pastor evangélico, Delegado de Polícia (aposentado) e Advogado.