O contagioso vírus da advocacia. Os insanos nos julgando insanos.
Elias Mattar Assad
Não sei o seu, mas esse contágio, no meu caso, é de família e veio de meu pai Elias Assad, hoje com 89 anos. Irreversivelmente, quando me espelhei nos grandes vultos da advocacia. Na sequência, contagiei minhas filhas Louise, Thaise e Caroline. Arlete, minha mulher, já era advogada quando nos conhecemos.
A mutação viral, mais contagiosa ainda, é a da advocacia criminal. Ela produz efeitos comportamentais de defesa intransigente de direitos fundamentais das pessoas e, colateralmente, o contagiado entra em estado de delirium e, em seus transtornos obsessivos compulsivos, faz profundos estudos e pesquisas em favor de pessoas acusadas de crimes, fica indignado, discursa, produz escritos (citando outros enfermos) acreditando piamente na imparcialidade de juízes, na aplicação do direito posto, no caráter ressocializador das penas e no ideal utópico da realização da Justiça. A morbidez atinge seu ponto mais alto quando o paciente, sem se importar com a turba do “crucificai-o”, começa a falar coisas como: “somente o verdadeiro culpado deve ser condenado e, assim mesmo, no seu exato grau de culpa…”
Enquanto as “autoridades” (não seria “baixoridades”?) não “catalogarem” a advocacia criminal entre os maiores “distúrbios psiquiátricos”, ficamos soltos por aí, vagando, como difamadas “almas errantes” ao lado das famílias que nos invocam nos momentos de problemas com a justiça. Aliás, o sintoma mais evidente do desvio comportamental, já incurável, é quando o doente afirma que “acusados, presos ou não, têm direito à assistência da família e de advogado…”
Sugiro que o nome do nosocômio, que futuramente nos possa ser destinado, seja “Hospício Eduardo Couture” e no portal que nos separa do convívio social, esteja afixado o seu decálogo com a advertência do asterisco: “*O Ministério da Saúde adverte…”. Ainda, caso vocês, da área da saúde, se filiem ao denominado movimento antimanicômio e se ficarmos soltos, asseguro-lhes que não causaremos “males maiores” para a sociedade que tentar fazê-la acreditar na utopia de que o direito e a justiça podem até funcionar em determinados casos. Lembro-me de que, nas últimas décadas, temos feito “terapias de grupos” com ABRACRIM, OAB e agora até em grupos de whatsapp, mas a experiência mostrou que surte efeito inverso ao da “cura”, acentuando o “delirium” dos participantes e dando mais resistência ao vírus.
Encerro com Carlos Drummond de Andrade: “Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida (…)”.
Mas, do auge do meu delírio, grito a plenos pulmões que não posso perdoar aos detratores do direito e da advocacia, porque eles, como os construtores e executores da “solução final” da década de 40, sabem o que estão fazendo!
(Elias Mattar Assad, Presidente Nacional da ABRACRIM- Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas)