O tiro da delação de Moro poderá sair pela culatra, projeta Cezar Bittencourt
Não se ignora que o agora ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro, ao demitir-se do Ministério da Justiça, presta um grande serviço à opinião pública, ao sair “atirando” e acusar as interferências políticas do presidente da República na autonomia da Polícia Federal. Denunciou a preocupação e o interesse do presidente Jair Messias Bolsonaro com o resultado de inquéritos policiais que tramitam no Rio de Janeiro. Como grande especialista que é em “delação premiada”, o bacharel Sergio Moro demite-se do Ministério da Justiça “delatando” o presidente da República pela prática de crimes comuns (advocacia administrativa e falsidade ideológica) e crime de responsabilidade. Este pela insistência em interferir diretamente na autonomia da Polícia Federal, exigindo relatórios de investigações, “para satisfazer a interesse pessoal”.
Essas acusações ao presidente imputadas por Sergio Moro são de extraordinária gravidade, especialmente o de falsidade ideológica, ao afirmar que não assinou a demissão do diretor da Polícia Federal, delegado Maurício Leite Valeixo. Completou essa denúncia assegurando que o mesmo não manifestou o pedido de sua exoneração, ao contrário do que constou no Diário Oficial da União. Curiosamente, no entanto, no dia seguinte saiu nova publicação da exoneração da referida autoridade, desta vez sem a assinatura do então ministro da Justiça.
Destacou ainda que não houve nenhum erro e nenhuma justificativa para a Presidência interferir diretamente na autonomia da Polícia Federal querendo escolher, politicamente, superintendentes regionais, principalmente o do Rio de Janeiro, e, ainda, a demissão do diretor-geral, sem sua anuência. Em outros termos, Sergio Moro afirmou em pronunciamento coletivo, nas redes televisivas, que o presidente faltou com a verdade, pois não assinou o decreto exonerativo e que apenas ficou sabendo desse ato pelo Diário Oficial, durante a madrugada (falsidade ideológica). No entanto, Sergio Fernando Moro, como qualquer delator, sempre é levado a extremos para conseguir o benefício que deseja, inclusive, mentir ou “dedurar os parceiros”, exatamente por que também se encontra na alça de mira do douto PGR, que o aponta, neste caso, em requisição de inquérito, como autor, possivelmente, da prática do crime de “denunciação caluniosa”, entre outros.
Contudo, parece que o calvário do bacharel Moro está apenas começando, pois sua maré de infortúnio ameaça a aproximação de dias revoltos pela frente e o antigo “rei das delações”, muitas delas ilegítimas, na medida em que decretava as prisões para forçar as delações, aliás, admitido publicamente por alguns procuradores, tendo, inclusive, um deles afirmado que canário só canta na gaiola. Na verdade, os ares parecem efetivamente ter mudado e aqueles tempos gloriosos, do então poderoso Moro, correm o risco de serem destruídos com ameaças vindas do passado.
Nestes últimos dias a mídia anunciou que, diretamente da Espanha, o advogado Rodrigo Tacla Duran denunciou que, no passado, houve uma tentativa de extorsão de US$ 5 milhões realizada por um grande amigo de Moro, seu compadre, o advogado Carlos Zuccoloto. Só essa divulgação irritou profundamente o ex-todo poderoso juiz da Lava Jato, que declarou na imprensa que estava indignado com essa revisita nas operações da Vaza Jato para atingi-lo.