Senado “colocou STF em seu lugar” ao aprovar fim do foro especial, diz Nelson Nery
Por Sérgio Rodas
Ao aprovar nesta quarta-feira (26/4) a Proposta de Emenda à Constituição 10/2013, que acaba com a prerrogativa de foro para crimes comuns, o Senado “colocou o Supremo Tribunal Federal em seu lugar” e mostrou que quem legisla no Brasil é o Congresso Nacional, afirmou à ConJur nesta sexta (28/4) Nelson Nery Jr., professor de Direito Processual Civil da PUC-SP.
Ele participou do Congresso Processo Civil e Fazenda Pública, promovido pela Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro em sua sede, no Centro da capital.
A presidente do STF, Cármen Lúcia, havia marcado para o dia 31 de maio o julgamento de um processo que discute a validade do foro por prerrogativa de função (Ação Penal 937). O ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso, sugeriu “uma interpretação restritiva” sobre o foro especial. A seu ver, apenas os crimes cometidos durante o exercício de cargo público seriam julgados pelas cortes superiores ou Tribunais de Justiça.
Na visão de Barroso, o Supremo pode restringir essa prerrogativa mesmo antes de o Congresso votar qualquer emenda constitucional nesse sentido. Mas o Senado se antecipou, e votou pelo fim do foro por prerrogativa de função para todos os cargos, exceto com relação aos presidentes da República, da Câmara dos Deputados, do Senado e do STF.
Para Nelson Nery Jr., sócio do Nery Advogados, a aprovação da PEC 10/2013 pelo Senado foi um “recado no fígado” para o STF, como que dizendo “olha, quem legisla no Brasil é o Congresso Nacional”.
O processualista elogiou a atitude dos senadores. Segundo ele, o Supremo está “hipertrofiado”. “O STF não tem todas essas competências que ele pensa que tem. A pretexto de interpretar a Constituição, a corte está mudando o texto constitucional. Não dá para o Supremo continuar legislando. O Supremo não tem competência para isso”, criticou.
Efeitos da mudança
Se a PEC 10/2013 for aprovada, o STF perderá um pouco de seu protagonismo, uma vez que não mais julgará ações penais contra políticos, avaliou Nery Jr. Contudo, ele ressaltou que a mudança deixaria a corte mais livre para exercer o controle de constitucionalidade de normas e decisões de instâncias inferiores.
No entanto, o processualista discorda da avaliação de que o fim do foro especial para a maioria dos cargos públicos irá extinguir a impunidade. De acordo com ele, o Poder Judiciário é uno, e age com a mesma seriedade, seja no STF, seja na primeira instância, embora a velocidade de conclusão dos processos varie.
Fonte: www.conjur.com.br