SER ADVOGADO VS. TER A CARTEIRA DA OAB
SER ADVOGADO VS. TER A CARTEIRA DA OAB
Por Thalles Vinícius
Eu não tenho receio de tocar em temas espinhosos, nem de desagradar a algumas pessoas. Quem se propõe a escrever, sobre qualquer tema, está sujeito a isso. Está sujeito a ser elogiado, criticado, aplaudido, vaiado, ou simplesmente ignorado. Hoje quero abordar sobre um assunto um tanto quanto delicado, e que talvez (quase que certamente) vai incomodar algumas pessoas.
E para aqueles que me dão a honra de ler meus textos entendam o que quero dizer, vou contar um “causo” que aconteceu comigo tempos atrás.
Uma pessoa me procurou para realizar uma consulta acerca de divórcio que pretendia fazer. Depois de tirar algumas dúvidas, houve uma pergunta sobre o tempo que iria demorar o processo. Disse ela: “porque meu sobrinho é advogado e disse que não costuma demorar muito”. Bom, se ela tem um sobrinho advogado e mesmo assim decidiu me procurar, isso é bom sinal. Mas mesmo assim achei que era interessante perguntar: “a senhora tem um sobrinho advogado? Que legal! Qual a área de atuação dele?”. Ela, então, me respondeu: “ele tirou a OAB mas não advoga, está estudando para concurso”.
Eu dei mais ou menos duas ou três respiradas fundas, daquelas bem lentas, e voltei a perguntar: “tudo bem, mas ele chegou a advogar por algum tempo? Em quantos processos de divórcio ele já atuou?”. Achei que era pertinente perguntar, já que ele havia dito (pelo menos foi o que sua tia me falou) que “não demorava muito”. Bom, a resposta dela você deve imaginar, não é? O sobrinho jamais havia pisado em uma sala de audiência como advogado, jamais havia assinado uma petição sequer, mas se intitulava advogado!
Pera aí, vou dar outra respirada antes de continuar escrevendo.
Contei essa pequena história porque confesso que fico um pouco chateado quando vejo pessoas falarem que são advogados, ou até colocarem essa informação em seus perfis nas redes sociais, sendo que nunca tiveram uma atuação na advocacia.
Você se consultaria com um “médico que só tem CRM”, mas que está estudando para um concurso qualquer de nível superior? Você confiaria em um “engenheiro civil” só porque ele tem registro no CREA, mas que nunca assinou um projeto?
Pois é. Não tem essa de “é advogado, mas não exerce a profissão”. Se ele não exerce a profissão, não é advogado!
Amigos e amigas, passar no exame da OAB e conseguir a carteira, é uma coisa. O exercício da advocacia, o dia a dia, a labuta dessa profissão tão nobre, é muito, muito diferente!
O verdadeiro advogado é aquele que se forja nas batalhas diárias, nas audiências, nos atendimentos, nas teses construídas no silêncio das noites e das madrugadas, nas sustentações orais que ninguém presta atenção, nas vitórias esquecidas, nos honorários não pagos, nos chás de cadeira nos fóruns, enfim.
Aquele que tem a carteira da OAB mas que não sabe o que é isso, ou seja, não possui uma atuação firme, contínua, duradoura, perene na advocacia, não é advogado. Ele tem a OAB, beleza. Mas advogado, não é.
Se você passou no exame da Ordem mas seu sonho é o concurso público, show de bola. Continue estudando, siga firme, vá à luta, e que Deus faça a estrada se erguer ao encontro do seu caminho.
Se você só tem a carteira da OAB e não a usa, não exerce a capacidade postulatória que ela lhe confere, me faça um favor: diga apenas que tem a carteira, jamais diga que é advogado! #Paz
***Thalles Vinícius é advogado, foi Procurador Regional de Prerrogativas, Presidente da Comissão de Assuntos Legislativos e Presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB/AC. Atualmente é membro do Conselho Superior da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas – ABRACRIM. Artigo publicado no Correio68.com .