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Ser ou estar advogado criminalista

Tenho percebido que alguns colegas, diante de um fato criminoso, principalmente em uma grande operação policial, são dotados de dupla opinião: uma é a do advogado, e a outra é a do cidadão. Falam isso com certa naturalidade, como se fosse possível dividir-se. Dizem, ainda, quando assistem as manchetes na TV, que “bandido” (esquecendo-se do juramento feito quando se tornou advogado) deve sofrer além dos limites da lei e que só está sofrendo uma vez que procurou este caminho, mesmo quando, dias antes, esbravejou que seu cliente (aí ele fala de sua atuação profissional) fora vítima de abuso de autoridade e que não teve seus direitos mínimos respeitados. Separam dois seres vivos e com visões de mundo completamente diferentes, mas que dentro de um mesmo corpo.
Os colegas que assim pensam aplaudem toda a ordem de ilegalidades e excessos. Vibram com as conduções coercitivas (ou debaixo de vara!!!), sobretudo quando envolvem políticos. Gozam com as prisões preventivas de longa duração, mesmo sabendo do constrangimento ilegal provocado pelo prazo excessivo. Alegram-se pela responsabilização de quem furtou barras de chocolates, absorvente ou um frasco de shampoo. E pior: vibraram com os massacres ocorridos nos presídios de Manaus, Roraima e Rio Grande do Norte no começo do ano, que resultou na morte de mais de uma centena de pessoas, chegando ao ponto de desejar que os acusados da famosa operação lava-jato passassem neles uma temporada.
Mas e quando “estão como advogados”? Aí a coisa muda. São ferrenhos defensores dos direitos humanos. Lutam pelo Estado Democrático de Direito. Exigem, das autoridades, o respeito às regras mínimas de civilidade e de respeito ao acusado. Não transigem quando está em jogo o direito de seu cliente.
Fico pensando como seria um médico nestas mesmas circunstâncias. Quando um amigo lhe fizer uma pergunta sobre eventual procedimento cirúrgico, ele dirá: quer que eu responda como médico ou como cidadão? Ou mesmo um engenheiro civil, quando indagado acerca da estrutura de uma ponte, abalada pelas chuvas fortes. Como cidadão ele diria basta colocar cimento e um pouco de areia.
Após toda uma bagagem de estudos, fruto de anos de renúncia e dedicação aos livros, não é possível separar o leigo do profissional. Com o exercício da função, visitando delegacias, fóruns, Tribunais e, principalmente, o “inferno” já conhecido por todos e chamado de presídio, a humanização do advogado criminalista torna-se mais aflorada, sendo a força propulsora que o estimula a lutar pelos direitos dos menos favorecidos e excluídos todos os dias.
A posição política ou partidária não pode ser a força motriz do advogado. A nossa ideologia é a Constituição. Defendemos o Estado Democrático de Direito por princípio. Quando optamos pela área criminal, não seguimos a trilha do dinheiro, mas simplesmente traçamos o caminho que o nosso coração mandou. O verdadeiro criminalista age por princípio, e não por oportunismo. O grito dos excluídos ecoa pelas paredes das masmorras, mas não são ouvidos. Por isso, somos os porta-vozes dos esquecidos.
É chegada a hora de acabar com o duplo pensamento: o do cidadão e o do advogado. Aliás, todo advogado também é cidadão. A anfisbena (figura da mitilogia grega e que possui duas cabeças, alocadas em cada extremidade do corpo) não é aceita no mundo de hoje. Somos ou estamos defensores da liberdade. Para quem gostou desse pequeno recado, parabéns. Você É ADVOGADO CRIMINALISTA.
Por Leonardo de Moraes – Presidente da ABRACRIM/AL

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