UM HISTÓRICO EXEMPLO DE PERSISTÊNCIA E SUPERAÇÃO Demóstenes, o maior orador da Grécia Antiga
Na fantástica e emocionante história da oratória através dos tempos, o grego Demóstenes, certamente foi o maior de seus personagens, porque, sem dúvida, quem mais sacrifícios pessoais fez para realizar seus sonhos e objetivos.
Nasceu em 333 Antes de Cristo. Era filho de um rico industrial, falecido quando ti- nha apenas 07 anos de idade. Órfão, ficou sob a tutela de parentes que acabaram dilapidando parte de sua fortuna.
Aos 14 anos, pela permanente e dedicada leitura, já possuía instrução cultural suficiente para compreender, inclusive, a linguagem prolixa de Calístrato, um dos mais veementes oradores da época.
Como habilidosa técnica de aprendizagem dos segredos de falar em público, co- piava pacientemente, a história de Thucydides, orador famoso pela sonoridade das suas palavras.
E, por não preencher, ainda, os requisitos necessários para se tornar advogado e falar nos Tribunais, Demóstenes se tornou escritor de discursos pronunciados por outros oradores.
Interessante é que, nessa condição, podia pedir a palavra depois do cliente, para esclarecimentos. Sua sofrível dicção, porém, não o ajudava muito.
Nervoso na tribuna, se perturbava, se confundia, e provocava risos nos ouvintes. Além disso, tinha peito fraco, articulação defeituosa, e o estranho vício de levan – tar constantemente uma das espáduas, sendo por isso várias vezes, vaiado e ridi- cularizado em público.
Mas, não desistiu. Tinha uma meta a cumprir.
Disposto a vencer, procurou fortificar os pulmões com exercícios físicos diários. A gagueira nervosa, dominou falando ao mar, à exaustão, com seixos na boca. E, para tirar o vício de levantar descontroladamente o ombro, ficava debaixo da ponta de uma espada dependurada, ferindo-se, a sangrar, cada vez que a tocava.
O mais comovente é que, para não se distrair no esforço de vencer as dificul- dades desse dramático treinamento, fechava-se num subterrâneo e mandava raspar seu cabelo e barba, para que, por qualquer motivo, não se sentisse tenta- do a ir para as ruas, já que pessoalmente inadequado à vida social da época.
Ao mesmo tempo, o grande amigo Satyros, famoso comediante, ensinava-lhe a pronúncia exata das palavras, a ação e tom de falar em voz alta, e a arte da de- clamação.
Seu esforço não foi em vão. Demóstenes não apenas venceu os defeitos físicos, como aprendeu a falar corretamente, tornando-se o mais completo orador da Grécia, e o maior exemplo de tenacidade em todos os tempos.
Certo, pois, que o bom orador não nasce feito. Ao contrário, é natural conse- quência de paciente e permanente treinamento das regras de comunicação.
Assim, advogados e advogadas menos talentosos nesse quesito, também podem fazer boa apresentação nos Tribunaqis, se sinceramente dispostos a se preparar tecnicamente para esse grande momento da carreira.
O começo do aprendizado, certamente menos doloroso que Demóstenes, é, geralmente, difícil. Nem por isso, deve o orador se deixar abater pelo desânimo se, eventualmente, cometer deslizes nas primeiras apresentações.
Com o tempo perceberá, nesse emblemático ritual, uma constatação incon- testavelmente verdadeira: O sucesso só ocorrerá se conseguir incorporar à linguagem do seu dia a dia algumas regras de comunicação.
Uma delas, aliás, deve ficar permanentemente gravado na memória como au- têntica legenda: o êxito do aprendizado sempre dependerá da repetição.
E, a interpretação é, absolutamente clara: precisamos aprender a aprender o conhecimento, com técnicas próprias e pessoais. É que enquanto apenas a- prendemos, dependemos, quase sempre, do professor. Quando, porém, a- prendemos a aprender, podemos, não raro, até ultrapassá-lo.
Ante essa constatação, faça a seguinte reflexão. Como aprendeu a andar, por exemplo, de bicicleta? Caiu… Levantou… Caiu… Insistindo sempre, até domi- ná-la completamente.
Como se vê, a técnica do aprendizado de oratória tem a mesma lógica: quando repetimos várias vezes uma mesma coisa, criamos automaticamente um pro- grama no cérebro, operando autêntica mudança de comportamento de vida.
A chave do sucesso do bom orador, portanto, assenta-se em duas grandes pi- lastras: Preparação técnica e treinamento permanentes. ………………………………………………………………………………………………………… OSVALDO SERRÃO é Vice Presidente da Associação Brasileira dos Advogados Crimalistas e Fundador da Academia Paraense de Júri.