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Drauzio Varella não é juiz

FABIO JACYNTHO SORGE

No domingo retrasado, o programa “Fantástico” da Globo, exibiu uma matéria com o Dr. Drauzio Varella que tratou sobre o aprisionamento das mulheres trans. O quadro abordou a inadequação da colocação dessas mulheres em presídios masculinos, bem como a situação de abandono que a maioria delas vive.

Na reportagem, o médico abraçou a trans, Suzy de Oliveira, no momento em que ela relatou que não tinha qualquer tipo de contato com o mundo exterior há vários anos. Após a repercussão da matéria, o Portal “O Antagonista” noticiou que a transexual Suzy, foi condenada por estuprar e estrangular um garoto de 9 anos.

Diante dessa notícia, o Dr. Drauzio soltou uma nota, nos seguintes termos “Há mais de 30 anos, frequento presídios, onde trato da saúde de detentos e detentas. Em todos os lugares em que pratico a Medicina, seja no meu consultório ou nas penitenciárias, não pergunto sobre o que meus pacientes possam ter feito de errado. Sigo essa conduta para que meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico. No meu trabalho na televisão, sigo os mesmos princípios. No caso da reportagem veiculada pelo Fantástico na semana passada (1/3), não perguntei nada a respeito dos delitos cometidos pelas entrevistadas. Sou médico, não juiz”

Não se sabe muito bem porque o raivoso Ministro da Educação, Abraham Weintraub, aquele que tem algumas dificuldades com a língua portuguesa e também em organizar o Enem, literalmente rogou praga ao médico, dizendo: “Não é juiz? Não é gente?! Você e Marinho não conseguem pedir desculpas! Não têm empatia ou compaixão com as crianças e famílias vítimas desse pedófilo! Continuem defendendo esse estuprador assassino, vocês se merecem. Antes que eu esqueça: desejo que vocês terminem no inferno.”

Penso que é preciso colocar as coisas em seus devidos lugares. A matéria veiculada no Fantástico, justiça seja feita, jamais afirmou que a trans Suzy é inocente ou que merecia estar solta. Também é preciso ressaltar que ela está presa e cumprindo pena, ou seja, pagando pelo crime que cometeu.

Porém, temos que a pena que deve ser aplicada a quem comete crime é a perda da liberdade e nenhuma outra. Assim, os presos e as presas devem ter sua dignidade respeitada: receber visitas, trabalhar, estudar, ter acesso a tratamento médico, entre outras coisas, mesmo que tenham sido condenados por crimes graves.

E foi isso que a reportagem e o Dr. Drauzio quiseram dizer. Como médico, não lhe compete julgar o paciente, ele não está lá para isso. A função dele é verificar a saúde dos detentos e prescrever medicamentos para os que estão doentes. Portanto, ele está certo ao afirmar que não é juiz. Não é porque alguém cometeu um crime que perde o direito ao tratamento médico. Não faz parte da pena morrer doente em uma penitenciária.

Por fim, choca que um Ministro da Educação deseje que qualquer pessoa que discorde dele vá para o inferno. Mas também não surpreende, já que é exatamente assim que fanáticos religiosos como ele agem.

FABIO JACYNTHO SORGE é associado da ABRACRIM-SP, defensor público do estado de São Paulo e coordenador da Regional de Jundiaí

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